Aniceto dos Reis Gonçalves Viana foi um renomado filólogo e linguista português, famoso pela sua contribuição fundamental na reforma ortográfica de 1911, que modernizou a escrita do português ao aproximá-la da fonética. A sua obra foi crucial para o desenvolvimento da fonética, ortografia e sistematização das regras gramaticais que sustentam o português contemporâneo, destacando-se pela simplicidade e uniformidade na ortografia.
Filho do ator Epifânio Aniceto Gonçalves Viana, Aniceto ficou órfão do pai e perdeu o irmão mais velho, Torcato, ambos vítimas de febre-amarela, em 1857, quando tinha apenas 17 anos. Este acontecimento forçou-o a interromper os estudos de comércio para sustentar a família, ingressando na função pública a 9 de janeiro de 1858, como aspirante da Alfândega de Consumo de Lisboa. Em 1885, transferiu-se para a Alfândega de Lisboa, onde foi promovido a chefe da Contabilidade. Ao longo dos anos, construiu uma carreira notável, alcançando o cargo de chefe de serviço da 1.ª Repartição em 1913. O Ministro das Obras Públicas, António Augusto de Aguiar, ofereceu-lhe a Ordem de Santiago, mas Viana recusou a condecoração, sendo, em alternativa, emitida uma portaria de louvor em seu nome.
Apesar da sua carreira administrativa, Gonçalves Viana, autodidata, dedicou-se intensamente à filologia e ao estudo de línguas. Entre 1886 e 1889, estudou grego na Biblioteca Nacional de Lisboa, sob orientação do professor António José Viale, e, entre 1877 e 1878, estudou sânscrito no Curso Superior de Letras, sob a tutela de Guilherme de Vasconcelos Abreu. Interessado em fonética e fonologia, Viana dominou diversas línguas, 28 idiomas, segundo a sua autobiografia (Viana, 1973), incluindo castelhano, catalão, italiano, alemão, russo, árabe e japonês. Era também conhecido pela sua extraordinária capacidade auditiva e memória. Trabalhou como revisor na Imprensa Nacional e colaborou com várias publicações de destaque, consolidando a sua reputação como cientista linguístico rigoroso.
Em 1880, foi nomeado secretário do 9.º Congresso de Antropologia e Arqueologia Pré-Histórica, realizado em Lisboa, organizando e redigindo o extenso relatório do evento, publicado quatro anos depois.
Em 1885, Viana participou na edição da Enciclopédia de ciência, arte e literatura — Biblioteca de Portugal e Brasil, em colaboração com Zófimo Consiglieri Pedroso e Guilherme A. de Vasconcelos Abreu. Os editores da enciclopédia elaboraram as
Em 1900, integrou a comissão para a revisão da nomenclatura geográfica portuguesa, sendo o autor das
A colaboração de Gonçalves Viana com a Academia das Ciências de Lisboa foi marcante. Eleito sócio correspondente a 16 de março de 1893, passou a sócio efetivo a 11 de janeiro de 1912, após parecer favorável de José Leite de Vasconcelos, também assinado por J. Fernandes Costa, Gama Barros, e António Cândido, lido na sessão de 9 de novembro de 1811. Foi nomeado vogal da Comissão do Dicionário da Língua Portuguesa em 1911, e, em 1912, para uma comissão que avaliou o
Viana teve um papel central na reforma e modernização da língua portuguesa, escrevendo artigos no
Entre as suas obras notáveis estão
Gonçalves Viana também produziu materiais na educação, como
Foi membro de várias sociedades científicas, incluindo a Sociedade de Geografia de Lisboa, a Association des professeurs de langues vivantes, a Gesellschaft für Romanische Literatur, a Sociedade Hispânica da América, e a Academia Brasileira de Letras (cadeira 1, 2.º ocupante, eleito em 1910), refletindo o seu prestígio e influência. O seu legado inclui correspondências com intelectuais de renome, como Hugo Schuchardt, o príncipe Louis-Lucien Bonaparte, Henry Sweet e Paul Pass. Destacou-se internacionalmente, participando em diversos congressos internacionais de orientalistas e contribuindo para publicações como
Faleceu em Lisboa aos 74 anos e foi sepultado no Cemitério de Benfica. Como não havia familiares responsáveis pela manutenção do túmulo, este acabou por ser abandonado, e os restos mortais foram transferidos para o ossário municipal. Após a morte de Gonçalves Viana, o Governo leiloou todos os seus bens, o que resultou na dispersão da sua biblioteca e do seu espólio de cartas entre compradores anónimos.
A sua contribuição para a linguística e a reforma ortográfica em Portugal marcou profundamente a história da língua portuguesa, continuando a ser uma referência fundamental para estudiosos.