Dicionário Histórico-Biográfico da Academia das Ciências de Lisboa

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Dalgado Sebastião Rodolfo Monsenhor Dalgado Assagão (Goa) Lisboa Sacerdote católico, orientalista, filólogo, professor de sânscrito no Curso Superior de Letras e depois na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Sócio correspondente da classe de Ciências Morais, Políticas e Belas Letras. Sebastião Rodolfo Dalgado.png Sebastião Rodolfo Dalgado (1855 – 1922). Retrato,in SALDANHA, Mariano, “Monsenhor Salgado, esboço bio-bibliográfico”, 1933. Ass_Sebastiao-Rudolfo-Dalgado.png

Filho de Ambrósio Dalgado, proprietário rural, e de Rosa Florinda de Souza, era irmão de Daniel Gelásio Dalgado, também membro da Academia Real das Ciências.

Fez os seus estudos no seminário de Rachol, vindo a sagrar-se depois sacerdote, em 1881. Em Roma, para onde foi estudar, no Seminário de Santo Apolinário, doutorou-se em Direito Canónico e Direito Romano, tendo-se graduado também em Teologia. Regressou a Goa, em 1884, como missionário, sendo nomeado professor no Seminário de Rachol, e Inspetor dos Seminários e Escolas do Padroado do Oriente desempenhando ainda as funções de desembargador da Relação Eclesiástica de Goa.

A extensa atividade missionária que desenvolveu, posteriormente, em várias regiões da Índia como Savatvandi, Ceilão (atual Sri-Lanka), onde foi vigário-geral, Calcutá, Dacca e no Bengala oriental, permitiu-lhe contactar com diversas comunidades linguísticas, que estudou, movido, em parte, pela necessidade que sentiu em usar o vernáculo local nas suas pregações, tendo os seus estudos linguísticos dos crioulos indo-portugueses, do cancanim e do sânscrito merecido os aplausos de filólogos seus contemporâneos, como foi o caso de Gonçalves Viana ou Leite de Vasconcelos.

Em 1893 publica, em Bombaim, a primeira parte do seu Dicionário Concani-Português (1893), tendo-se fixado depois em Lisboa, a partir de 1895. Seguiu-se depois, no âmbito das comemorações do quarto centenário do descobrimento do caminho marítimo para a Índia, Dialecto Indo-Português de Ceilão (1900) e, cinco anos depois, a segunda parte do seu Dicionário Concani-Português (1905). Publicaria ainda, com a chancela das Academia Real das Ciências, Influência do Vocabulário Português em Línguas Asiáticas (1913), Contribuições para a lexicologia luso-oriental (1916), Glossário Luso-Asiático (1919), Rudimentos da Língua Sânscrita (1920) e Florilégio de provérbios concanis (1922).

Em 1904, foi-lhe conferido o título de prelado doméstico de Sua Santidade, com direito ao uso do título de monsenhor. Nomeado professor de sânscrito no Curso Superior de Letras, em 1907, transitou depois, em 1911, para o corpo docente da recém-fundada Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, no mesmo ano, a 27 de julho, em que foi eleito sócio correspondente da Classe de Ciências Morais, Políticas e Belas Letras da Academia Real das Ciências, após parecer positivo de Gonçalves Viana, lido na sessão de 24 de fevereiro de 1911.

Foi sócio da Sociedade de Geografia de Lisboa (1895), membro do Instituto de Coimbra (1896), Doutor Honoris Causa pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa (1911), e membro da Royal Asiatic Society de Londres (1921).

Em 21 de dezembro de 1922 fez a sua candidatura ao lugar de sócio efetivo da Classe de Letras, tendo sido lido, por Francisco Maria Esteves Pereira, o parecer favorável à sua eleição, na sessão de 23 de março de 1922. No entanto, a morte de Sebastião Dalgado, cerca de 12 dias depois, a 4 de abril de 1922, impediu que se viesse a concretizar a sua eleição para efetivo, a que se havia candidatado. No seu testamento, Dalgado deixou à Academia o seu legado bibliográfico de cerca de 300 obras, na sua grande maioria, “instrumentos lexicográficos e gramaticais em línguas europeias, sânscrito, crioulos africanos e indianos” (“Relatório de atividades...”, 2023).

Em 1988 foi criada, em sua honra, a Dalgado Konknni Akademi, com sede em Goa, destinada a promover a escrita da língua concani utilizando o alfabeto latino, a literatura e a cultura de seus escritores e falantes.

Diccionario Komkani-Portugez philologico-etymologico , vol. 1, Bombaim, Na Tip. Indu-Prakash, 1893; Dialecto Indo-Português de Ceilão, Lisboa, Imprensa Nacional, 1900; Dialecto indo-portuguez de Gôa; Porto, Tip. de A. F. Vasconcelos, 1900; Dicionário Portuguez - Concani, vol. 2, Lisboa, Imprensa Nacional, 1905; “Dialecto indo-português de Goa”, Sep. da Revista Lusitana, vol. 6, fasc.1, Porto, 1906; “Dialecto indo-português do Norte (Bombail e subúrbios)”, Sep. da Revista Lusitana, vol. 10, fasc. 1 e 2, Lisboa, 1906; Influência do Vocabulário Português em Línguas Asiáticas ; abrangendo cêrca de cinquenta idiomas, Academia das Ciências / Coimbra, Imprensa da Universidade, 1913; Contribuições para a lexicologia luso-oriental, Academia das Ciências / Coimbra, Imprensa da Universidade, 1916; “História de Nala e Damayanti” (Episódio do Mahabhárata), Revista da Universidade de Coimbra IV(1), 1916, 180-196; "Gonçalves Viana e a lexicologia portuguesa de origem asiático-africana", Sep. do Boletim da Segunda Classe, v. 10. Lisboa, Academia das Ciências, 1917; Glossário Luso-Asiático, 2 vols., Academia das Ciências / Coimbra, Imprensa da Universidade, 1919; Rudimentos da Língua Sânscrita (gramática, textos, vocabulário), Lisboa, Imprensa Nacional, 1920; Florilégio de provérbios concanis , Coimbra, Imprensa da Universidade, 1922. AH – ACL, Processo académico, PT/ACL/ACL/C/001/1911-07-27/SRD; SALDANHA, Mariano, “Monsenhor Salgado, esboço bio-bibliográfico”, Sep. da Revista da Faculdade de Letras, tomo 1, Lisboa, 1933; NAIQUE, Ramachondra, Monsenhor Sebastião Rodolfo Dalgado, Bastora (Goa), Tipografia Rangel, 1956; “DALGADO /Monsenhro Sebastião Rodolfo)", Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira, Lisboa / Rio de Janeiro, Editorial Enciclopédia, [s.d.]; PEREIRA, Fr. A. (S.J.), Dalgado, the man and the scholar, New Delhi, Sahitya Akademi, 1983; “Relatório de Atividades do Encontro ExploratórioÁsia e Arquivos”, 2023, https://portasia.letras.ulisboa.pt/wp/arquivo/2620 (Acesso: 13.10.25); MACHADO, Everton V., “Sebastião Rodolfo Dalgado”, in PINTO, Marta Pacheco (Org.), A participação portuguesa nos congressos internacionais de orientalistas – textos e contextos, Lisboa, Edições Húmus, 2019, pp. 587 – 589. DHB Portuguesa Sócio correspondente. Ciências Morais, Políticas e Belas Letras ... ... ... ... ... ...