Dicionário Histórico-Biográfico da Academia das Ciências de Lisboa

DHB

Branco Manuel Bernardes Lisboa Lisboa Professor particular de latim e grego, tradutor, escritor erudito, numismático e filólogo. Sócio correspondente da Classe de Ciências Morais, Políticas e Belas Letras. Ass_Manuel-Bernardes-Branco.png

Filho de Manuel Bernardes Branco e da segunda sua mulher, Carlota Maria de Jesus, que foram recebidos em 24 de março de 1831 na freguesia de Pena. Devido à pobreza não teve o benefício de frequentar a escola na sua infância, mas mais tarde terá recebido aulas particulares da parte de ex-professores. Com menos de 18 anos de idade, já ganhava a vida ao dar aulas de latim, aos 19 anos já era professor de Latinidade no Colégio do Marquês de Tancos. No ano letivo de 1851-1852, porém, passou a frequentou os dois anos de língua hebraica no Liceu Nacional de Lisboa, sendo aprovado nos exames de 22 de julho de 1851 e 13 de julho de 1852.

Ainda neste ano, por proposta do conselheiro real Antonio José Viale, deslocou-se para o Porto, onde se dedicou, durante três anos, ao ensino particular do filho de Carlos Leme Vieira de Melo, 9.º senhor da casa do Val de Couto, Sebastião do Sacramento Leme Guedes Vieira de Macedo, 10.º senhor da casa do Val de Couto. A partir de 1855, continuou durante mais sete anos no Porto como professor de línguas, exercendo a sua profissão nos colégios particulares daquela cidade.

Ainda antes de regressar a Lisboa, em 1862, Bernardes Branco foi eleito associado provincial da Academia Real das Ciências de Lisboa, em 24 de março de 1860.

Enquanto ainda residia no Porto, em 17 de fevereiro 1859, contraiu matrimónio com a setubalense D. Maria Ana Amélia de Ataíde que veio a falecer, em 1867, na freguesia da Lapa. Pouco depois, em 19 de junho de 1867, contraiu segundas núpcias com D. Júlia Piedade Branco, viúva e que era filha do seu meio-irmão António Bernardes Branco.

Foi eleito sócio correspondente da Academia Real das Ciências de Lisboa em 19 de fevereiro de 1891, sendo integrado na Classe de Ciências Morais, Políticas e Belas Letras. Tendo começado a publicar os primeiros artigos literários desde 1856, Bernardes Branco afirma no seu “Relatorio de trabalhos litterarios” de 5 de fevereiro de 1879 que acompanhou a sua candidatura a sócio efetivo da Academia Real das Ciências de Lisboa, que não teria perseguido o cursus honorum na Academia das Ciências por causa da inimizade que tinha com o confrade Augusto Soromenho. Viria a ser apenas eleito sócio correspondente, em 19 de fevereiro de 1891.

Nas primeiras obras que publicou, Bernardes Branco optou por reeditar obras previamente publicadas. A primeira delas, Tito Lívio: História romana (1861), foi publicada com referência à filiação académica do autor/tradutor. Já na reedição do Diccionario Geografico das Colonias Portuguezas de Francisco dos Prazeres Maranhão, Branco afirma ter sido “[...] encarregado pela casa Moré de rever, corrigir e ampliar alguma cousa [...]”, o que é uma subavaliação do seu trabalho, uma vez que as LXXXIX e 254 páginas fazem com que o Diccionario Geographico abbreviado de Portugal e suas possessões ultramarinas seja muito mais elaborado do que a obra original. Semelhantemente, editou, em 1870, o Mappa de Portugal antigo e moderno de João Batista de Castro, em quatro volumes.

Entre 1875 e 1875, saíram do prelo os treze volumes da Historia universal por Cesar Cantu, uma versão da Storia universale em 18 volumes (1838-1846), da autoria do político italiano Cesare Cantù, que Bernardes Branco traduziu com base nos respetivos volumes da tradução francesa, Histoire universelle em 19 volumes (1843-1849), realizada por Eugène Aroux e Piersilvestro Leopardi. Ao referir “[...] alguns accrescentamentos relativos aos feitos dos portuguezes” nos rostos do conjunto de livros por ele editados, Bernardes Branco assumiu a autoria de todos os elementos que se referem ao seu país e os seus habitantes, com os quais complementou a história geral do autor italiano.

Ao identificar-se ainda como “Professor das linguas grega e latina [...]” (Branco 1879, p. I), chegou a publicar um Novo Diccionario Portuguez-Latino com 863 páginas no formato in-4.º, a que se seguiu a segunda edição em 1884 com VI e 918 páginas. Desde a terceira edição, em 1897, que o título passou a ser Diccionario português-latino, mantendo-se assim na quarta edição póstuma de 1909.

A principal obra do autor é, sem dúvida, a sua bibliografia em cinco volumes, Portugal e os Estrangeiros, em que faz resenha dos autores estrangeiros que escreveram sobre temas relacionados com Portugal, assim como das suas obras e de outras obras congéneres anónimas. Como entre os dois primeiros volumes e o último decorreram dezasseis anos, não é de estranhar que a agenda de publicação de Bernardes Branco tenha sofrido algumas alterações ao longo dos anos. Os cinco volumes publicados durante a vida do autor podem ser sistematizados da seguinte forma. Primeira parte (1879): Tomo I (A-O) com XXIV e 533 páginas; Tomo II (P-Z) com I e 646 páginas. Segunda parte (1893): Tomo I (Prologo, A-C) com 665 páginas; Tomo II (D-M) com 703 páginas; (1895): Tomo III (N-Z) com IV e 383 páginas.

Antes de terminar o seu magnum opus bibliográfico, publicou a sua Historia das ordens monasticas em Portugal, em 3 volumes.

Para além das obras aqui mencionadas, o nosso autor publicou ainda grande número de obras de natureza monográfica, sobretudo de cariz historiográfico que infelizmente não podem todas ser mencionadas aqui.

Consta que Manuel Bernardes Branco terá falecido no ano de 1900 (Pereira & Rodrigues 1906, II, p. 472). Como se sabe que regressou à sua cidade natal, Lisboa, depois de 1862, pode assumir-se que terá falecido em Lisboa. No entanto, não se sabe em que freguesia ou por qual das então já existentes Conservatórias do Registo Civil ou qual dos bairros da Administração do Concelho de Lisboa o seu óbito foi registado.

Tito Lívio: História romana. Traducção dos 5 primeiros livros por Manuel Bernardes Branco, [...] Porto, Typographia de António José da Silva Teixeira, 1861; Diccionario Geographico abbreviado de Portugal e suas possessões ultramarinas. Por Fr. Francisco dos Prazeres Maranhão (o Flaviense). Nova Edição, correcta, augmentada e reduzida á moderna divisão territorial por Manoel Bernardes Branco, Porto, Em casa de Viuva Moré – Editora, 1862; Mappa de Portugal antigo e moderno pelo Padre João Bautista de Castro, Beneficiado na Santa Basilica Patriarchal de Lisboa. Três tomos e um suplemento, Lisboa, Typ. do Panorama, 1870; Historia universal por Cesar Cantu. Nova edição vertida da francesa de 1867, [...], e com alguns accrescentamentos relativos aos feitos dos portuguezes, por Manuel Bernardes Branco, [...]., 13 volumes, Lisboa, No Escriptorio de Francisco Arthur da Silva, Editor-Proprietario, 1875-1879; Novo Diccionario Portuguez-Latino. Composto por Manuel Bernardes Branco, Professor das linguas grega e latina, etc. etc. 2 volumes, Lisboa, Livraria Ferreira, 1879; A crucificação entre os antigos : resposta ao Jornal do Commercio , Estudos archeologicos , 1, Lisboa, Typ. Castro Irmão, 1878; Portugal e os Estrangeiros: Obra dividida em quatro partes, contendo os seguintes assumptos, I - Diccionarío dos escriptores estrangeiros, que escreveram obras consagradas a Portugal ou a assumptos portuguezes, com a traducção dos trechos mais notaveis d'essas obras, II - Diccionario das obras portuguezas vertidas em linguas estrangeiras, III - Noticia dos portuguezes quo no estrangeiro se distinguiram nas lettras, e resenha das obras portuguezas reimpressas nos paizes estrangeiros, IV - Noticia das recordações e monumentos existentes em diversas partes do mundo, construidos por portuguezes, ou erigidos em honra d'elles. Estudos de Manoel Bernardes Branco da Academia Real das Sciencias de Lisboa, Primeira Parte, Tomo I e Tomo II, Lisboa, Livraria de A. M. Pereira-Editor, 1879; Historia das ordens monasticas em Portugal, Volumes I a III, Lisboa, Livraria Editora de Tavares Cardoso & Irmão, 1888; El Rei D. Manuel, Lisboa, Livraria de J. A. Rodrigues, 1888; Portugal e os Estrangeiros, Segunda Parte, Volumes I a III, Lisboa, Imprensa Nacional, 1893-1895. AH – ACL, Processo académico, PT/ACL/ACL/C/001/1860-03-24/MBB; Assento de casamento do viúvo Manuel Bernardes Branco com a sua segunda mulher Carlota Maria de Jesus, 24 de março de 1831, ANTT, Registos Paroquiais, Concelho de Lisboa, Paróquia de Pena, Registos de Casamento, liv. C20, cx. 22 , PT/TT/PRQ/PLSB24/002/C20, fol. 58; Assento de batismo de Manuel, que nasceu a vinte e três de agosto de 1832, filho de Manuel Bernardes Branco e da sua mulher Carlota Maria de Jesus, 22 de setembro de 1831, ANTT, Registos Paroquiais, Concelho de Lisboa, Paróquia de São Cristóvão e São Lourenço, Registos de Baptismo, liv. B6, cx. 3, PT/TT/PRQ/PLSB38/001/B6, fol. 22; Assento de casamento de Manuel Bernardes Branco com D. Maria Ana Amélia de Ataíde, 17 de fevereiro de 1859, ANTT, Arquivo Distrital de Lisboa, Registos Paroquiais, Concelho de Lisboa, Paróquia de Anjos, Registos de Casamento, liv. C13, 6/48/2/1 (1848-1867), PT/TT/PRQ/PLSB06/002/C13, fol. 81v; Assento de casamento de Manuel Bernardes Branco com D. Júlia Piedade Branco, 19 de junho de 1867, ANTT, Arquivo Distrital de Lisboa, Registos Paroquiais, Concelho de Lisboa, Paróquia de Sacramento, Registos de Casamento, liv. C14, cx. 18 (1859-1873), PT/TT/PRQ/PLSB27/002/C14, fol. 164v-165r; CANTÙ, Cesare, Storia universale, 18 vols, Torino, Presso gli editori Giuseppe Pomba e C. 1838 – 1846; CANTÙ, Cesare, Histoire universelle. Par César Cantu, Soigneusement remaniée par l'auteur, et traduite sous ses yeux, par Eugène Aroux, ancien député, et Piersilvestro Leopardi. Tome Premier-Tome Dix-Huitième, Paris, Chez Firmin Didot Frères, Éditeurs, Imprimeurs de l'Institut de France,1843-1849; MARANHÃO, Francisco dos Prazeres, Diccionario Geografico das Colonias Portuguezas, no qual se descrevem todas as ilhas, e porções de continentes, que Portugal possue no Ultramar; suas produçoes naturaes, rios, Povoações, Commercio, &c, Porto, Typographia Commercial Portuense, 1842; PEREIRA, João Manuel Esteves & RODRIGUES, Guilherme, Portugal: Diccionario Historico, Biographico, Bibliographico, Heraldico, Chorographico, Numismatico e Artistico, etc., etc. ,Vol. II, B-C, Lisboa, João Romano Torres – Editor, 1906, p. 472; SILVA, Inocêncio Francisco da, Diccionario Bibliographico Portuguez, Tomo Quinto, Lisboa, Na Imprensa Nacional, 1860; SILVA, Inocêncio Francisco da, BRITO ARANHA, Pedro Venceslau de, Diccionario Bibliographico Portuguez,Tomo XVI (9.º do supplemento), Lisboa, Imprensa Nacional, 1893. Rolf Kemmler portuguesa associado provincial. Ciências Morais,Políticas e Belas Letras