Dicionário Histórico-Biográfico da Academia das Ciências de Lisboa

DHB

FigueiredoPedro José deLinguista, filólogo, periodista. Sócio efetivo.ass_Pedro-Figueiredo.png

Ainda que possua uma biografia algo nebulosa, Pedro José de Figueiredo nasceu em Lisboa e era filho de Caetano José de Figueiredo, cirurgião da câmara da rainha D. Maria I, e de D. Gertrudes Margarida de Figueiredo. Abraçou desde cedo os estudos de latim e grego, além da história, filosofia e retórica ministrados no colégio irlandês de S. Patrício, em Lisboa, embora fosse particularmente dotado para a filologia.

Posteriormente, lecionaria estas disciplinas no Seminário do Patriarcado em Santarém, onde foi secretário, sendo-lhe reconhecida a sua competência bibliófila pelo próprio infante D. José de Bragança (1761-1788), príncipe do Brasil, o qual lhe solicitava a escolha e a aquisição de livros raros para a sua biblioteca pessoal. Foi beneficiado da Igreja Patriarcal e, pese não ter tido meios para frequentar a Universidade de Coimbra, foi secretário e lente de História, Poética e Retórica no Real Seminário da Patriarcal de Lisboa e, por fim, membro da Real Mesa da Comissão Geral sobre o Exame e Censura de Livros (1787-1794).

Alcançou alguma fama como autor da Arte da Grammatica Portugueza (1799), a qual conheceu várias edições, inclusive no Brasil. A obra foi publicada pela Impressão Régia, para a qual seria nomeado como corretor e diretor das edições dos livros de reza e devoção (9.3.1812). Indigitado como revisor literário da oficina tipográfica da Academia (22.9.1810), cargo que desempenhou brilhantemente durante alguns anos, ingressou na classe de Literatura Portuguesa como académico correspondente (6.4.1811), seguindo-se a sua eleição como sócio livre (5.5.1813) e, depois, como sócio substituto de efetivo (5.5.1813).

Contribuiu com uma ‘Dissertação Histórico-Jurídica’ em abono da legitimidade de D. Teresa, mãe de D. Afonso Henriques, publicada nas Memorias de Litteratura Portugueza. Baseado na comparação das crónicas e documentos medievais, contestou os mais distintos cronistas e historiadores e defendeu, intransigentemente, a legitimidade de D. Teresa. Em dado momento, contudo, perante a obscuridade documental, aquiesceu que D. Teresa poderia ser uma filha ilegítima de Afonso VI de Leão e Castela. A defesa frágil da legitimidade de D. Teresa não acrescentou qualquer originalidade a essa questão historiográfica, devendo ser apreciada como um panegírico à Casa Real portuguesa, então sedeada em terras brasileiras.

Enquanto divulgador da História de Portugal na imprensa periódica portuguesa, foi o responsável pela edição do Retratos e Elogios dos Varões, e Donas (1806-1825), conhecido igualmente pelas suas admiráveis ilustrações. Apesar de afirmar-se mais linguista do que historiador, Pedro José de Figueiredo possuía uma paixão evidente pelos tempos medievais. Indubitavelmente, foi o periódico ilustrado mais notório da primeira vintena do século XIX, assinando a maior parte das biografias aí publicadas, embora redatores como Fr. José Mariano da Conceição Veloso (1742-1811) e José da Cunha Taborda (1766-1836), entre outros, lhe sejam associados.

Os 78 retratos e biografias que compõem os Retratos e Elogios dos Varões e Donas não possuem qualquer numeração. Estes retratos, em formatos ovais, cujo diâmetro media entre 10cm x 11cm, foram quase todos desenhados por José da Cunha Taborda, ainda que as placas de impressão fossem buriladas por vários gravadores. São, na sua essência, um exercício biográfico dedicado a personalidades ilustres da História de Portugal, onde as preocupações com a veracidade e a objetividade são categóricas, embora ornadas por artifícios literários, os quais anunciavam as primeiras influências do Romantismo.

A sua pequena biblioteca pessoal seria adquirida por D. João Inácio da Fonseca Manso (1761-1834), 18.º bispo de Leiria, e doada ao Seminário da cidade. Pouco favorecido pela sorte, Pedro José de Figueiredo sofreria enormes privações, vivendo da caridade e do apoio de amigos. Após padecer de doença prolongada, faleceu em Lisboa, a 11 de fevereiro de 1826. O seu elogio histórico seria proferido por Manuel José Maria da Costa e Sá, na sessão pública da Academia em 13 de dezembro de 1830.

Arte da Grammatica Portugueza, ordenada em methodo breve, facil e claro, Lisboa, Impressão Régia, 1799 (2.ª edição: Lisboa, 1804; 3.ª edição: Lisboa, 1811; Baía, 1817; 4.ª edição: Lisboa, 1837); Retratos e Elogios dos Varões, e Donas, que illustraram a Nação Portugueza em Virtudes, Letras, Armas, e Artes, assim Nacionaes, como Estranhos, tanto Antigos, como Modernos. Offerecidos aos Generosos Portuguezes, vol. I (único), Lisboa, Officina de Simão Thaddeo Ferreira - Impressão Régia, 1806-1825; Sentimentos do Juiz do Povo…, Lisboa, Impressão Régia, 1808; Carta em resposta de certo amigo da cidade de Lisboa a outro da villa de Santarem, em que se lançam os fundamentos sobre a verdade, ou incerteza da morte d’el rei D. Sebastião XVI. Rei de Portugal na batalha de Alcacerquibir em Africa, Lisboa, Officina de João Evangelista Garcez, 1808; “Dissertação Historico Juridica sobre a ligitimidade da Senhora D. Teresa, mulher do Sr. Conde D. Henrique, e mãi do Sr. Rei D. Affonso Henriques”, Memorias de Litteratura Portugueza, vol. VIII, Parte Segunda, Lisboa, Academia Real das Ciências, 1814, pp. 252-274; Papéis relativos à Instituição Vaccinica pela Academia, BACL, série Azul, ms. 999; Razão e mais Razão, Lisboa, Imprensa Nacional, 1821.Processo académico, AH-ACl, PT/ACL/ACL/C/001/1811-04-06/PJF; Dias, Eurico Gomes, «Pedro José de Figueiredo [1762-1826]», in Memorias de Litteratura Portugueza [1792-1814]: os Homens e as Letras na Academia Real das Ciências de Lisboa, Coimbra, Imprensa da Universidade de Coimbra, 2017, pp. 673-680; Dias, Eurico Gomes, Representações da Idade Média na imprensa periódica portuguesa entre a Restauração e a Revolução Liberal, Lisboa, Caleidoscópio, 2017, pp. 293-312; Duarte, Sónia, “As edições da Arte da Grammatica Portugueza de Pedro José de Figueiredo”, Revista de Letras, série II, n.º 11. Vila Real, Centro de Estudos em Letras/UTAD, Dez. 2012, pp. 67-104; Fontes, Susana Alves, Pedro José de Figueiredo: ideias linguísticas no quadro cultural setecentista, dissertação de mestrado em Ensino da Língua e Literatura Portuguesas, Vila Real, UTAD, (versão policopiada), 2006; Machado, M.ª Rosa Pacheco, A Academia Real das Sciencias de Lisboa e a sua Tipografia (1780‑1910), dissertação de mestrado em Ciências Documentais, Lisboa, UAL, (versão policopiada), 2007, p. 117; Sá, Manuel José Maria Costa e, “Elogio Historico de Pedro José de Figueiredo”, Historia e Memorias da Academia, 2.ª série, tomo II, Parte I, Lisboa, Academia Real das Ciências, 1848, pp. 1-7; Silva, Inocêncio Francisco da, “Pedro José de Figueiredo”, in Diccionário Bibliográphico Portuguez, vol. VI, Lisboa, Imprensa Nacional, 1860, pp. 415-419; vol. XVII, 1894, p. 210.Eurico Gomes Dias (ICPOL-ISCPSI)PortuguesaSócio correspondente; livre: 5.5.1813; substituto de efetivo na classe de Literatura Portuguesa: 5.5.1813.Literatura Portuguesa