Pedro José da Fonseca foi um proeminente filólogo que marcou profundamente o panorama intelectual e educacional de Portugal no século XVIII. A trajetória de Pedro José da Fonseca demonstra uma profunda dedicação ao conhecimento e ao ensino, desenvolvendo-se num período marcado por intenso dinamismo intelectual e reformas importantes, como a expulsão dos jesuítas e a reforma pombalina da educação. O seu contributo destacou-se especialmente neste contexto de transformação, que veio a moldar o futuro da educação e da cultura em Portugal.
As informações biográficas sobre Fonseca são escassas, baseando-se principalmente num folheto de Francisco Coelho de Figueiredo, seu condiscípulo no Colégio de Santo Antão, intitulado
Nascido a 29 de junho de 1736, conforme registo de batismo na Igreja de Santa Justa, em Lisboa, era filho de José da Fonseca e Ana do Espírito Santo. Foi primeiro educado por um preceptor particular, António Félix Mendes. A data exata em que ingressou no Colégio de Santo Antão é desconhecida, mas, em 1751, já frequentava a aula de Retórica, o estágio final dos estudos nos colégios jesuítas. Destacou-se pelo seu talento e erudição, obtendo os primeiros prémios em concursos académicos.
A carreira de Pedro José da Fonseca atingiu o seu auge ao ser nomeado professor régio de Retórica e Poética na Corte de D. José I, em 1759. Nessas funções, destacou-se pela capacidade de formar talentos e por desempenhar um papel decisivo na reforma do ensino em Portugal. A sua posterior transferência para o Real Colégio dos Nobres, onde ensinou retórica, poética e lógica até 1804, reforçou o seu impacto duradouro na educação, moldando jovens mentes e contribuindo significativamente para a reestruturação da sociedade portuguesa da época.
Pedro José da Fonseca foi um dos sócios fundadores da Academia Real das Ciências de Lisboa, eleito a 24 de dezembro de 1779. A participação ativa na primeira sessão, a 16 de janeiro de 1780, como sócio efetivo da classe de Literatura, prenunciava a sua notável contribuição. Foi eleito diretor da tipografia da Academia Real das Ciências, tendo, por motivos de doença, abdicado do cargo em 1791, ano em que passou a ser administrada pelo guarda-mor Alexandre António das Neves.
Liderou a comissão responsável, em 28 de junho de 1780, pela composição do Dicionário da Língua Portuguesa, tornando-se um dos três efetivos colaboradores deste trabalho monumental. No dia 24 de novembro de 1780, foi feita a primeira junta sobre a composição do dicionário com os membros da dita comissão. Nela foram aprovados todos os artigos que constavam do plano oferecido pelo lexicógrafo no dia da sessão inaugural da Academia. A 27 de março de 1790, Pedro José da Fonseca foi nomeado sócio veterano da Academia, cargo reservado a sócios de longa e valiosa dedicação à Academia. Este título conferia-lhe várias prerrogativas, como a isenção de participação nas assembleias e o direito de voto.
Em 1793, participou na publicação do primeiro tomo do
A sua influência também se estendeu à Arcádia Lusitana, onde participou como sócio, com os ideais reformistas da época, participando ativamente na modernização do sistema educativo em Portugal. Além do trabalho no dicionário, Fonseca compôs dicionários referenciais notáveis, como o
Após cerca de 45 anos de ensino, Pedro José da Fonseca reformou-se, desgastado e doente, por volta de 1804. Nesse estado, foi encontrado pelo seu antigo colega Francisco Figueiredo, que o procurou para rever os manuscritos do irmão, o dramaturgo Manuel Figueiredo. Fonseca conseguiu rever até à letra T do tomo 14, necessitando de ajuda para se manter sentado na cama em julho de 1816.
Solteiro e sem família, vivia no Rossio com Gertrudes Maria de Santa Anna e Francisca Eusebia da Assumpção, sobrinhas de uma menina órfã que os seus pais haviam acolhido e que o apoiaram até ao final da sua vida.
Mal remunerado pelos seus trabalhos literários, Pedro da Fonseca passou os últimos anos de vida próximo da miséria. Para sobreviver, vendeu à Academia das Ciências os originais e traduções de várias das suas obras, por 330 000 réis, recebendo o último pagamento em dezembro de 1814. Incapaz de pagar a renda da casa, mudou-se do Rossio para o Poço de Borratém, em 1816, passando a viver numas águas-furtadas no terceiro andar. Nos seus últimos dias, foi amparado por antigos discípulos e amigos, como o Dr. Gregório Thaumaturgo dos Santos, o prior da sua freguesia, Manuel Joaquim de Almeida, e o seu testamenteiro, Bartolomeu Inácio Jorge, que também colaborou com ele na elaboração do dicionário da Academia. A partir de 3 de julho de 1816, a sua saúde deteriorou-se drasticamente, e a 8 de julho de 1816 foi sepultado na freguesia de Santa Justa.