Dicionário Histórico-Biográfico da Academia das Ciências de Lisboa

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AlvarengaManuel Inácio da SilvaAlcindo PalmirenoVila Rica (Minas Gerais), BrasilRio de Janeiro, BrasilAdvogado, poeta e professor régio de Retórica e Poética. Sócio correspondente.Alvarenga,-Manuel-Inacio-da-Silva.png

Filho do músico mestiço Inácio da Silva Alvarenga e de Felina Lopes da Fonseca, Alvarenga fez os seus estudos no seminário de Nossa Senhora da Boa Morte na cidade de Mariana, em Minas Gerais, tendo vindo depois para Portugal. Matriculou-se (1.10.1768) na cadeira de Instituta e, no ano seguinte, na faculdade Cânones da Universidade de Coimbra onde obteve a sua formatura (10.6.1776).

Silva Alvarenga notabilizou-se, enquanto poeta e crítico literário, como um dos árcades brasileiros mais significativos, ao lado de Claúdio Manuel da Costa, Santa Rita Durão, Basílio da Gama, Tomás Gonzaga e outros. Começa a publicar ainda estudante, sob o pseudónimo de Alcindo Palmireno, integrado no grupo da Arcádia Ultramarina, uma espécie de filial da Arcádia Romana (Anjos, 2015).

O desertor: poema heroi-comico (1774) é considerado, para além das instâncias de natureza literária que estruturam o poema, como um texto de adesão ao projeto da reforma pombalina da Universidade de Coimbra. A sua estreia literária deu-se, contudo, dois anos antes, com A Termindo Sipilio Arcade Romano por Alcino Palmireno Arcade Ultramarino Epistola, um poema em verso alexandrino que, não só elogia a obra de outro árcade e amigo, Uruguai de Basílio da Gama (Termindo Sipílio), como constitui também uma forte crítica ao mau gosto, à rima grosseira, ao excesso de referências eruditas, e à incompetência em suscitar paixões que ocorre nas obras de alguns poetas seus contemporâneos, mais adequadas para “embrulhar adubos e confeitos”.

Alvarenga prosseguiria depois a sua atividade literária, em prosa e em verso, com uma forte tonalidade crítica e satírica, usualmente integrada no quadro do neoclassicismo arcádico com influências de Horácio, Boileau e Verney. envolvendo-se diretamente no episódio da “guerra dos poetas”, uma disputa entre árcades com visões diferentes do seu ofício. Um dos alvos das suas críticas foi o árcade António Diniz da Cruz e Silva, a quem critica o pedantismo e a exibição de uma pretensa erudição e que iria reencontrar no Brasil, após o seu regresso, mas agora em campos politicamente opostos.

No Brasil, para onde regressou em 1776, começou por exercer advocacia na comarca de Rio das Mortes e aí é nomeado coronel de milícias dos pardos. Muda-se pouco depois para Rio de Janeiro onde exerce a advocacia, é nomeado professor régio de retórica e poética e, sob a proteção do vice-rei Luís de Vasconcelos e Sousa, irá dinamizar, juntamente com outros poetas mineiros, a Sociedade Literária do Rio de Janeiro (1786), um fórum de debate ideias e de atualização de conhecimentos científicos, considerada herdeira da anteriormente extinta Sociedade Científica.

Alvarenga já estava no Brasil quando é eleito, na sessão de 5.5.1780, correspondente da Academia das Ciências de Lisboa, na mesma sessão em que Cruz e Silva também foi eleito. Mas, ao contrário deste, o seu nome nunca constaria nas listas de sócios impressas pela Academia. Numa carta enviada a Correia da Serra (28.7.1789), lamentou-se de ainda não ter recebido o diploma de sócio, apesar de já ter feito o pedido nesse sentido ao visconde de Barbacena. Ficamos a saber ainda que Alvarenga apenas soube da sua eleição por uma carta que o seu amigo José Basílio da Gama lhe enviou, tendo obtido a confirmação da mesma por parte de Simão Pires Sardinha.

Em 1790, a substituição de Luís de Vasconcelos e Sousa por um novo vice-rei, José Luís de Castro, conde de Resende, e a proximidade de alguns árcades ao movimento da Inconfidência Mineira passaram a marcar um novo contexto político local, mais adverso às iniciativas da Sociedade Literária. A Sociedade é encerrada (1794) sob acusação de defender ideias revolucionárias e de subversão contra a coroa e os seus membros, nos quais está Alvarenga, são perseguidos e presos. A instrução do processo coube ao desembargador Diniz da Cruz e Silva, da Arcádia Lusitana e autor do Hissope, o mesmo que havia sido objeto de crítica por Alvarenga. O processo manteve-se sem acusação formada ao longo de três anos findo os quais, não se encontrando provas de conspiração, foram mandados libertar por D. Maria I.

Uma vez libertado, Alvarenga retomou a sua atividade de jurista e de professor, colaborando no Patriota, Jornal Litterario, Politico, Mercantil &c. do Rio de Janeiro.

A Termindo Sipilio Arcade Romano por Alcino Palmireno Arcade Ultramarino Epistola, Coimbra, Oficina de Pedro Ginioux, 1772; O desertor: poema heroi-comico, Coimbra, Na Real Officina da Universidade, 1774; A gruta americana. Por Alcindo Palmireno, Arcade Ultramarino a Temindo Sipilio, Arcade Romano, Lisboa, Regia Offician Typographica, 1779; Glaura: poemas Eroticos, Lisboa, Na Officina Nunesiana, 1799; O canto dos pastores, Lisboa, Regia Officina Typografica, 1780; Sousa e Silva, Norberto (ed.), Obras poéticas de Manoel Ignacio da Silva Alvarenga, 2 tomos, Rio de Janeiro, Livraria de B. L. Garnier, 1864.Processo Académico, AH-ACl, PT/ACL/ACL/C/001/1780-05-22/MISA; SILVA, Inocêncio Francisco da, “Manuel Ignacio da Silva Alvarenga”, in Diccionario Biblioraphico Portuguez, vols. VI e XVI, Lisboa, Na Imprensa Nacional, 1862, 5-7 e 226 e 227; BLAKE, Sacramento, “Manuel Inácio da Silva Alvarenga”, in Dicionário bibliográfico brasileiro, 6º volume, Rio de Janeiro, Tipografia Nacional, 1900, 100-102; ALMEIDA, Palmira M. R. de, “Alvarenga, Manuel Inácio da Silva”, in Dicionário de Autores no Brasil Colonial, 2ª edição, Lisboa, Edições Colibri, 2010, 62-65; Topa, F., Para uma edição crítica da obra do árcade brasileiro Silva Alvarenga, Porto, Edição do Autor, 1998; ANJOS, Carlos M. V. dos, O movimento arcádico no Brasil setecentista: significado politico e cultural da Arcádia Ultramarina, Tese de doutoramento, Belo Horizonte, Universidade Federal de Minas Gerais, 2015; MORATO, Fernando Lima e, Um mestre na periferia da Arcádia: a obra poética de Manuel Inácio da Silva Alvarenga no contexto do Império português do século XVIII, Dissertation presented in Partial Fulfillment of the Requirements for the Degree Doctor of Philosophy, Ohio, Ohio State University, 2019.José Alberto SilvaBrasileiraSócio correspondente.Letras