Filho de pai francês e mãe portuguesa, Luís António Verney foi um dos nomes mais significativos que, no século XVIII, em Portugal, deram conta dos ventos de mudança que sopravam já por toda a Europa. A sua formação intelectual começa no Colégio de Santo Antão dos Jesuítas, onde terá cursado, entre 1720 e 1727, o plano consistindo em Gramática Latina, Latinidade e Retórica. Subsequentemente, frequenta o curso de Filosofia na Congregação do Oratório, ministrado pelo padre Estácio de Almeida, em que se debruçou sobre Lógica, Física e Metafísica.
Em 1729, depois de uma inesperada e fugaz passagem, enquanto militar, por Salvador da Baía, no Brasil, numa nau cujo primeiro destino era Goa, regressa a Portugal, prosseguindo os seus estudos de filosofia e de teologia na Universidade de Évora, junto dos Jesuítas. Esta formação virá a contribuir para algumas das suas ideias posteriores sobre educação, tal como as podemos conhecer através do
É em Roma que o contacto com o novo ideário iluminista marca profundamente Verney. Devem mencionar-se em especial as suas relações com dois intelectuais italianos, Muratori e António Genovesi, o primeiro pela sua influência decisiva sobre as ideias de Verney, o segundo pelas semelhanças e pelas contradições relativamente às suas próprias ideias. E devem ainda mencionar-se as inúmeras leituras que faz, nomeadamente de Locke e dos empiristas ingleses, bem como em diversas áreas de pensamento (Newton, Descartes, Bacon), que o expõem às mudanças ideológicas que por toda a Europa se fazem sentir.
É neste quadro que Verney concebe aquela que viria a ser a sua obra principal, o
Constituído por dezasseis cartas, cada uma delas correspondendo a uma área do saber à época, da Gramática e ortografia da língua portuguesa ( Carta I) até à Carta XVI, versando observações várias em torno da organização prática dos estudos e da educação das mulheres, que considera como possuindo iguais capacidades intelectuais aos homens, passando pela Retórica (V e VI), Poética (VII), Metafísica (IX), Física (X), Medicina (XII) ou Direito Canónico (XV), o
Esta obra de Verney conheceu uma acesa polémica, que em Portugal se prolonga até 1759, e em Espanha até meados da década seguinte. As razões para ela são de natureza e alcance muito diverso, como os vários biógrafos de Verney puderam analisar. Mas a questão mais importante, no tocante à poética e retórica, acaba por se poder resumir ao contraste entre o ideário ainda de figuração barroca (as “agudezas”) e aqueloutro que Verney gostaria de ver implantado no ensino em Portugal, devedor de um pensamento neoclássico e, por isso, iluminista. Tanto a obra como a polémica a que deu origem foram, no entanto, decisivas para o agitar das águas no que respeita à reforma do ensino em Portugal, permitindo que se sedimentassem as ideias em torno do alargamento do pensamento crítico e do ideário iluminista. Verney, que lutou para que a reforma do ensino, protagonizada pelo Marquês de Pombal, se fizesse eco das suas ideias, publicou, “para uso dos adolescentes lusitanos”, como diz, vários compêndios, dos quais apenas um, sobre ortografia latina, foi adotado. No entanto, a existência de tais compêndios demonstra o plano mais lato que Verney tinha ideado para a transformação do ensino em Portugal, com o desenvolvimento de uma visão da ciência assente na observação e na experiência e de um plano de instrução mais aberto (uma escola em cada grande rua).
Luís António Verney foi eleito sócio correspondente da ARSL em 22.05.1780, honra que agradece em carta publicada por António Alberto de Andrade, em que manifesta, entretanto, a sua desilusão com o estado geral da sua vida.