Entre os primeiros colaboradores da Academia Real das Ciências de Lisboa salientou-se Fr. Joaquim de Santo Agostinho de Brito França Galvão, igualmente conhecido como Fr. Joaquim de Santo Agostinho, o qual desempenhou um papel relevante como historiador, tradutor, polemista e enquanto prelado. Era filho de José Xavier de Brito e de D. Ana Escolástica Gertrudes França, os quais, embora não sendo abastados, lhe providenciaram a melhor educação, granjeando fama como aluno exemplar desde cedo.
Abraçando a sua vocação eclesiástica tornou-se eremita de Santo Agostinho, cuja regra professou em junho de 1783, no Convento da Graça, em Lisboa. Em outubro desse ano começou a estudar filosofia e sagrou-se frade eremita calçado no Colégio de Santo Agostinho em Coimbra, onde lecionou Poética e Retórica durante alguns anos. De seguida, e após destacar-se como aluno premiado, licenciou-se em Teologia pela Universidade de Coimbra (1793). Três anos depois, por nomeação do cardeal-patriarca de Lisboa, foi nomeado professor de Ética e Direito Natural no Seminário de Santarém. Em 1798, requereu a transição para freire conventual da Ordem de São Bento de Avis e, no ano seguinte, era designado abade de Santiago de Lustosa, no Arcebispado de Braga.
Integrou uma comissão de académicos, entre os quais estavam João Pedro Ribeiro, e Fr. Joaquim de Santa Rosa Viterbo, incumbidos pela Academia Real das Ciências de Lisboa, entre 1788 e 1794, sob a direção do secretário da Academia, abade José Correia da Serra, de examinar e inventariar os acervos documentais dos cartórios do reino. A Fr. Joaquim de Santo Agostinho coube a tarefa - que desempenhou parcialmente - de examinar os cartórios do Algarve, de Beja, do mosteiro de Alcobaça e de São Vicente de Fora e do senado de Lisboa. Ao Algarve deslocou-se duas vezes (1790-1791), reunindo as suas indagações num total de três volumes manuscritos, atualmente conservados na Biblioteca da Academia das Ciências de Lisboa (Série Azul, mss. 402, 403 e 404).
As suas contribuições académicas ser-lhe-iam reconhecidas, sendo eleito académico correspondente em 1789, seguindo-se a sua eleição como académico livre (17.03.1794), depois académico efetivo (13.01.1798) na classe de Literatura Portuguesa e, por último, retomando a académico livre (10.11.1834).
Sendo natural de Tavira, privilegiou o estudo do cartório local, embora fosse profundo conhecedor dos espólios noutras localidades. Descobriu e divulgou publicamente a
Descoberto em 1788, esse texto anónimo e sem data, relata um dos episódios mais complexos da História de Portugal. As informações contidas nesta narrativa, embora possam ser erróneas, fornecem um manancial histórico insubstituível. Nesse sentido, Fr. Joaquim de Santo Agostinho preocupou-se em divulgar uma fonte histórica aos leitores das
No final do primeiro volume das
O terceiro e último apontamento académico de Fr. Joaquim de Santo Agostinho de Brito França Galvão para as
Enquanto autor das
A proibição, pela Coroa, da entrada do
Em 1814, traduziu
Com o final das lutas liberais e a consequente extinção das ordens religiosas e militares, Fr. Joaquim de Santo Agostinho viveu fortes necessidades materiais. Já com idade avançada e gravemente doente, consta-se que faleceu em virtude de uma pneumonia, a 4.7.1845, com 78 anos de idade. Em 6 de Junho, foi sepultado no altar-mor da igreja de Lustosa, onde existiu uma lápide evocativa em sua memória.
O primeiro contributo biográfico, sob a forma de elogio fúnebre, foi da autoria do académico João Baptista da Silva Lopes (1845), permanecendo ainda inédito (Baião, 1957). Paralelamente à sua intervenção política, assim como a sua colaboração periodista, os estudos históricos de Fr. Joaquim de Santo Agostinho permanecem uma prova evidente da sua enorme erudição.