Dicionário Histórico-Biográfico da Academia das Ciências de Lisboa

DHB

MabelliniGiovanni BattistaJ. B. Mablin, Beato MabliniSavigliano, ItáliaParis, FrançaProfessor de grego na Escola Normal Superior de Paris, vice-bibliotecário da Biblioteca da Sorbonne, inspetor da Escola de Paris. Sócio livre.A2-Mabellini.pngLitografia da autoria de Felice Seghesio, elaborada entre 1839 e 1864, Archivio storico dell’Accademia delle Scienze di Torino

Nasceu na comuna de Savigliano, uma vila fortificada que encabeçava a região de Cúneo, no Piemonte, no seio de uma família do patriziato, isto é, da aristocracia local, sendo o seu pai advogado. Começou por ser instruído por um padre de Savigliano, ingressando depois no colégio da província de Torino, com o propósito de seguir a carreira da jurisprudência como o pai. Contudo, após obter o bacharelato decidiu ingressar na vida eclesiástica, iniciando o estudo de Teologia.

A partir de 1792 dedicou-se ao estudo de línguas antigas e modernas, tanto europeias como orientais, nomeadamente o grego, o hebraico e o árabe. Ensinou durante alguns meses em Savigliano, dando aulas privadas a partir de 1795, numa altura em que o sistema escolástico do Piemonte passou por fortes conturbações.

Em 1797, foi ordenado sacerdote e nomeado primicério da colegiada de Santo André em Savigliano. Nesse mesmo ano, foi convocado a ensinar teologia no Real Colégio de Torino, sendo nomeado assistente de biblioteca do dito colégio, em 1798, passando para a posição de efectivo em 1800. Anos depois terá sido convidado pelo bispo da diocese de Casale Monferrato, Jean-Chrysostôme de Villaret, para ensinar teologia no seminário diocesano.

Em finais de abril de 1807, deixou a Universidade de Torino que se encontrava então em grande desorganização. Tendo-se dirigido duas vezes a Paris, em 1807 e 1808, na esperança de leccionar na faculdade, a conjuntura não se revelou favorável a Mabellini que, no entanto, publicou em 19 de outubro de 1809, uma pequena rúbrica no periódico parisiense Le Moniteur Universel, sobre o título de “Mélanges – Langue grecque”. Em 1810, após a nomeação de Jean-Chrysostôme de Villaret, então bispo de Amiens, para chanceler da Universidade de Paris, Mabellini é nomeado professor de língua grega na recém instituída Escola Normal Superior, tendo vindo ainda a ser secretário deste prelado na sua condição de chanceler da universidade parisiense.

Quatro anos depois, em 1814, com a implosão do império napoleónico, Mabellini deixa de lecionar na Escola Normal Superior e é forçado a retomar as aulas particulares de grego, hebraico e árabe. No ano de 1815 publica um opusculo onde aborda questões relacionadas com tradução de poemas gregos e latinos para o francês, intitulado Mémoire sur ces deux questions : Pourquoi ne peut-on faire des vers français sans rimes? Quelles sont les difficultés qui s'opposent à l'introduction du rhythme des anciens dans la poésie française?. Em 1816, retoma a leccionação do grego na mesma instituição até 1822, ano em que o ensino da Escola Normal é suprimido mais uma vez. Nesse ano de 1822 adquire a nacionalidade francesa. Mabellini passou então a exercer o cargo de curador da biblioteca da mesma instituição, tratando até 1824 da transferência e incorporação desta mesma biblioteca para a biblioteca da Sorbonne, bem como da catalogação dos respectivos livros. Em julho de 1824 passa ao posto de vice-bibliotecário da universidade. Posteriormente é nomeado inspector da Escola de Paris, membro da comissão de concurso, sendo-lhe ainda confiada a missão de avaliar quais os livros e textos a serem adotados no ensino.

Foi eleito sócio correspondente da Academia Real das Ciências de Lisboa na sessão ordinária de 6 de junho de 1826, após ter endereçado à Academia - por intermédio do ministro plenipotenciário português em Paris e sócio da Academia, Pedro de Melo Breyner - um opusculo publicado em Paris naquele mesmo ano, intitulado Lettre à l’Académie royale des sciences de Lisbonne, sur le texte des Lusiades, no qual discorria sobre diversas edições dos Lusíadas, revelando um profundo conhecimento da língua portuguesa.

Em 1829, não obstante de se ter encontrado gravemente doente, Mabellini retoma a atividade letiva, vindo a ser nomeado mestre conferencista e professor de primeira classe da cátedra de grego, de novo na Escola Normal que foi reaberta em 1830 após a entronização de Luís Filipe I. O rei de França terá conferido dois anos depois, em 1832, a Legião de Honra a Mabellini que faleceu volvidos dois anos em Paris, a 13 de agosto de 1834. A notícia da sua morte terá tardado a chegar à Academia das Ciências de Lisboa, pois em 10 de outubro de 1834, passados já perto de três meses da sua morte, Mabellini é eleito sócio livre, ignorando-se certamente que este já havia falecido.

Mabellini dedicou grande parte da sua vida ao ensino e influenciou as gerações subsequentes de estudos helenistas, particularmente em França. O número das suas publicações foi reduzido, todavia, deixou um vasto leque de manuscritos, entre apontamentos e textos inéditos, que foram legados à Universidade de Torino. Terá redigido um volumoso dicionário grego-latim-francês, intitulado Logothèque, o qual não terá chegado a finalizar.

“Mélanges – Langue grecque”, Le Moniteur Universel, Paris, 19 de outubro de 1809; Mémoire sur ces deux questions: Pourquoi ne peut-on faire des vers français sans rimes? Quelles sont les difficultés qui s'opposent à l'introduction du rhythme des anciens dans la poésie française?, Paris, Debray, 1815; Lettre a l'academie royale des sciences de Lisbonne, sur le texte des Lusidades, Paris, 1826, Treuttel et Würtz.Processo Académico, AH-ACLPT/ACL/ACL/C/001/1826-06-06; Chabot, Modesto, Cenni biografici su Giovanni Battista Mabellini saviglianese, Torino, Tipografia del Giornale Il Conte Cavour, 1869; “MABELLINI, Giovanni Battista”, in Dizionario Biografico degli Italiani, vol. 66, Treccani, 2006 (https://www.treccani.it/enciclopedia/giovanni-battista-mabellini_%28Dizionario-Biografico%29/ - acedido a 4.1.2024).ACLItalianaSócio correspondente; livre: 10.11.1834.